Investidores retornam às startups brasileiras, agora focados em negócios sólidos.

Mercado de venture capital no Brasil mostra sinais de recuperação, com investidores priorizando modelos B2B, eficiência operacional e empresas impulsionadas por inteligência artificial.

Mercado de venture capital no Brasil mostra sinais de recuperação, com investidores priorizando modelos B2B, eficiência operacional e empresas impulsionadas por inteligência artificial.

Fundadores da QI Tech, startup mais recente a integrar o rol de unicórnios brasileiros.

Fundadores da QI Tech, startup mais recente a integrar o rol de unicórnios brasileiros.

O investimento em startups brasileiras vem subindo desde 2024, após um ano de 2023 que ficou conhecido como o “inverno das startups”. Uma série de fatores levaram a uma queda nos investimentos de fundos de venture capital (capital de risco), incluindo a alta na taxa de juros dos Estados Unidos, maior nível de exigência em relação ao modelo de negócios das startups e uma ressaca de 2021, ano que foi recorde em patamar de investimentos de risco no Brasil e no mundo. Após esse pico, que durou até meados de 2022, houve um vale de aportes que exigiu que as startups se financiassem com capital próprio, o que levou a uma revisão de planos de negócios e demissões.

De acordo com dados da KPMG, no ano passado, o investimento em venture capital no País foi de US$ 2,25 bilhões (R$ 11,9 bilhões pela cotação desta quarta-feira, 17), ante US$ 2,1 bilhões (R$ 11,1 bilhões) em 2019 e o pico de US$ 6,66 bilhões (R$ 35 bilhões) de 2021. No primeiro semestre deste ano, o volume de investimento chegou a US$ 1,25 bilhão (R$ 6,6 bilhões), pouco mais da metade do registrado no ano passado.

O período da pandemia foi um divisor de águas no mercado de investimentos em startups. Ali, a euforia dos investidores passou e eles se tornaram mais rigorosos com modelos de negócios, deixando de investir em empresas sem clareza sobre a geração de caixa.

O setor de fintechs, as startups do setor financeiro, continuam como destaque entre os negócios inovadores brasileiros que têm conquistado investidores. Mas a fase de negócios voltados ao consumidor atraindo cheques cheios de zeros chegou ao fim. Agora, a moda é investir em startups com foco em empresas, que têm menos problemas com inadimplência e maior previsibilidade de receita e lucro.

O presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Leo Monte, destaca que o ecossistema de startups de São Paulo já tem uma maturidade considerável, o que é um fator crucial para seu desenvolvimento contínuo e para a atração de investimentos. Com isso, diz ele, os investidores podem descartar os aventureiros do empreendedorismo que criam negócios apenas para captar recursos.

“Não é sobre ‘quanto mais cheques menores eu faço para startups diferentes’, mas sim sobre quanto mais startups maduras eu tenho, mais cheques seletivos eu consigo fazer e em aportes maiores. Isso é uma tendência global”, diz Monte.

Brian Requarth, CEO do fundo Latitud, diz que o setor de fintechs segue em alta, mas também existem oportunidades para negócios inovadores de outras áreas e ressalta que o Brasil tem startups e empreendedores capazes de criar negócios de sucesso.

“Segmentos como tecnologia para logística, compras e automação tributária também estão ganhando espaço porque se conectam diretamente à economia operacional — em um ambiente com restrição de capital, eficiência vende. Vemos o apetite dos investidores ir para modelos como SaaS para infraestrutura, plataformas com dados incorporados, e aplicações verticais (focadas em uma indústria específica)”, afirma.

Neste primeiro semestre, a Clara, voltada à gestão de gastos corporativos, levantou US$ 80 milhões junto ao fundo Customer Value Fund (CVF), da General Catalyst. A empresa já tinha captado US$ 70 milhões em 2021 com o Coatue, o que a levou ao status de unicórnio — negócio avaliado em mais de US$ 1 bilhão.

Gerry Giacomán Colyer, CEO e cofundador da Clara, conta que a empresa tem buscado eficiência operacional e na captação de novos clientes, sendo uma frente importante a recomendação das empresas que já contratam seus serviços para outras, tornando a qualidade da prestação de serviço uma frente de expansão por si só.

“Temos um negócio com uma maneira eficiente de adquirir novos clientes, novo crescimento, e é por isso que conseguimos levantar esse capital. O aporte será 100% dedicado a continuar financiando mais o nosso crescimento. É uma combinação desse crescimento e também do desenvolvimento contínuo do produto e de novos produtos para nossos clientes, onde queremos ajudá-los a fazer e gerenciar todos os seus pagamentos. Assim, todo fluxo de trabalho de pagamento pode ser feito com a nuvem”, afirma Colyer.

O executivo diz ainda que os investidores estão em um momento diferente do mercado, não apenas buscando oportunidade de crescimento exponencial, mas também maturidade na estratégia de negócios.

“O clima mudou e o investidor procura empresas que estejam crescendo rápido, mas que também sejam excelentes financeira e operacionalmente. Há um sentimento de que haverá uma consolidação de empresas que se tornem plataformas, e queremos ser isso para nossos clientes”, diz Colyer.

A empresa mais recente a chegar ao patamar de unicórnio foi a QI Tech, fintech especializada em soluções financeiras para empresas. A companhia recebeu aportes da General Atlantic (que também é investidora do Nubank) que superaram R$ 1 bilhão e, em abril, uma extensão de rodada de investimento fez a companhia romper a barreira do US$ 1 bilhão.

Marcelo Buosi, diretor de Operações (COO) da QI Tech, diz que as tecnologias financeiras brasileiras atraem investidores por causa da demanda de mercado por esses produtos de digitalização. “O segmento B2B (vendas entre empresas) em fintechs cresce porque há uma oportunidade clara de gerar impacto em escala: empresas que oferecem infraestrutura financeira — como a QI Tech — permitem que outras organizações, de diferentes portes e setores, criem ou expandam produtos financeiros com rapidez, compliance e segurança”, afirma.

Segundo Buosi, o recente envolvimento de fintechs em atividades ilegais, conforme apontado pela Operação Carbono Oculto deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), com apoio da Polícia Federal e da Receita Federal, deve separar o joio do trigo entre as startups do setor.

“O aumento da fiscalização traz mais credibilidade ao ecossistema e protege tanto os clientes quanto os investidores. Inovação responsável precisa caminhar junto com governança e compliance”, diz.

A onda da inteligência artificial (IA) também tem ajudado empreendedores brasileiros a criar novos negócios. Um dos casos é o da Jumpstart, que ajuda pessoas a emigrar, focando especificamente na imigração para os Estados Unidos. A startup se concentra em petições de imigração baseadas em currículo e mérito, que são processos longos (de 500 a 2 mil páginas), e a IA permite identificar padrões e sazonalidades em profissões e tipos de incubadoras aceitas pela imigração, algo que humanos não conseguiriam. Desse modo, a startup está desenvolvendo fórmulas para os diferentes casos de pessoas que buscam se mudar para os EUA.

A IA ajudou a Jumpstart a oferecer serviços 50% a 60% mais baratos do que grandes escritórios renomados, que geralmente cobram entre US$ 20 mil e US$ 30 mil por um Green Card. A startup cobra de US$10 mil a US$12 mil.

A IA utilizada pela empresa é uma otimização de modelos existentes, como ChatGPT e Gemini, ajustada para a necessidade específica do segmento de mercado, um processo conhecido como fine tuning (ajuste fino, em tradução livre).

“Queremos que o processo de imigração seja tão fluido e com todas as garantias e facilidades que ele possa ser incorporado na Nomad, no Nubank ou no BTG para o público de alta renda. Hoje o processo de venda de imigração é extremamente exaustivo, dado que existe um mercado super saturado e não tem nenhuma marca também que é super confiável”, afirma Fabiano Rocha, engenheiro formado no ITA, fundador e CEO da Jumpstart.

A cidade de São Paulo vem se consolidando como uma das mais importantes do mundo no ecossistema de inovação. No País, já pode ser considerada a capital da inovação. Recentemente, a cidade passou a integrar a lista das 50 mais relevantes em ciência e tecnologia do mundo, após subir 24 posições no ranking, que serve como prévia do Índice Global de Inovação (IGI). Com a alta, o município foi da 73ª para a 49ª colocação — e é a única da América Latina entre as 100 primeiras posições.

Com isso, São Paulo ficou à frente de cidades como Melbourne (52ª), Stuttgart (54ª), Milão (56ª), Atlanta (59ª), Montreal (62ª), Frankfurt (64ª), Miami (67ª), Cambridge (69ª), Roma (82ª), Lyon (90ª) e Manchester (94ª).

Rodrigo Goulart, secretário de desenvolvimento econômico e trabalho da prefeitura de São Paulo, diz que a cidade tem tomado medidas para estimular a inovação, tanto com programas para acelerar os ecossistemas de startups quanto com redução de alíquota de ISS, de 5% para 2%, para alguns setores ligados à tecnologia.

“Temos feito inclusões no plano de metas do empreendedorismo de tecnologia e inovação. Sempre pensamos nos jovens, mas pensamos na longevidade. Há um atendimento aos longevos, ligados à tecnologia, para evitar que sejamos apenas programas de um governo. A ideia é transformar os programas em políticas públicas”, afirma.

Atualmente, o município tem programas como o Green Sampa, o Vai Tec, o Sampa Games e a rede de coworkings Teias.

Segundo balanço feito pela Contabilizei com base em dados públicos da Receita Federal, o volume de abertura de empresas no País vem aumentando, seguindo os movimentos observados em investimentos de fundos de venture capital em startups brasileiras.

Neste ano, 4,7 mil novas empresas de tecnologia foram criadas no País, um aumento de 25% em relação ao mesmo período no ano anterior. A grande maioria é do setor de serviços e esperam faturar mais do que os R$ 81 mil anuais limitados no MEI, uma vez que 88% dos novos CNPJs são de micro ou pequenas empresas.

O vice-presidente executivo de operação da Contabilizei, Guilherme Soares, conta que os profissionais de tecnologia têm um histórico de trabalho empreendedor, com muitos deles abrindo empresas para prestar serviços para diversas empresas.

“Ter mais investimentos para startups faz com que esse mercado de prestação de serviços de tecnologia aumente. Analisando os números, em 2023, quando foi o inverno das startups e houve uma limitação da liquidez, as empresas passaram a segurar seus gastos. Foi onde teve um decréscimo na abertura de empresas de tecnologia no Brasil”, afirma.

Em 2024, São Paulo foi a capital que mais registrou a abertura de novas empresas de tecnologia, com 15,3 mil, seguida por Belo Horizonte com 2,12 mil e Curitiba com 1,68 mil.

A base de clientes da Contabilizei cresceu 40% de 2023 para 2024, chegando a mais de 30 mil. O faturamento total desses clientes foi de R$ 6,5 bilhões, com avanço de 38% em relação ao ano anterior (2023 x 2024). Entre eles, dois de cada dez (19%) emitem nota fiscal para o exterior, um crescimento de 33% no mesmo período, e o faturamento desses profissionais foi de R$ 2,3 bilhões no ano passado, uma alta de 46%.

De acordo com o levantamento iMonitor IT, feito pela Advance, as principais oportunidades para empresas de TI no País atualmente estão em áreas como inteligência artificial, marketing digital, computação em nuvem, cibersegurança e análise de dados.

Apesar do crescimento expressivo dos investimentos globais em startups de inteligência artificial (IA), a América Latina tem ficado com uma fatia cada vez menor desse mercado bilionário. Dados da consultoria CB Insights de 2021 a 2025 mostram que, enquanto o volume de aportes no mundo totalizou US$ 461,9 bilhões, a região latino-americana captou apenas US$ 2,5 bilhões — ou 0,54% do total global. Neste ano, até junho, foram US$ 116,1 bilhões globalmente e US$ 100 milhões na região.

Entre as startups brasileiras que conseguiram se destacar no cenário ainda tímido da América Latina, a Blip, especializada em chatbots, recebeu o maior aporte, US$ 60 milhões, em uma rodada Série C liderada por gigantes como SoftBank, Warburg Pincus e Accel. Outras empresas que se destacaram foram a Payface — especializada em biometria facial para pagamentos—, com US$ 10 milhões captados com participação do BTG Pactual, e a Jota, focada em dados jurídicos e políticos, que recebeu US$ 9 milhões em rodada seed com participação dos fundos Maya Capital, Alter Global e Big Bets. Startups como Neofin (finanças corporativas), Teachy (ensino) e Advolve (publicidade) também figuram entre os maiores aportes do período, mostrando que, apesar das dificuldades estruturais da região, há empreendedores brasileiros conseguindo atrair capital para soluções baseadas em IA.

Segundo especialistas, uma das explicações para o Brasil e a América Latina como todo terem ficado com um pequeno montante dos aportes está na desvalorização das moedas da região. Outra é que as startups brasileiras, argentinas, chilenas e colombianas têm tido dificuldade de criar negócios que sejam vistos por investidores globais como disruptivos.

A disparidade dos aportes em relação às cifras globais também se reflete no número de rodadas: globalmente, foram realizadas 23.542 rodadas de investimento entre 2021 e junho de 2025, contra apenas 294 na América Latina. Isso evidencia uma dificuldade da região em atrair capital para negócios baseados em IA, mesmo diante do aumento da demanda global por tecnologias que utilizam aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural e outras soluções automatizadas.

Outro ponto que reforça essa distância é o tamanho médio dos cheques. Enquanto o valor global médio por rodada ficou em US$ 19 milhões, na América Latina o valor foi de apenas US$ 8 milhões. Em 2025, a diferença foi ainda mais expressiva: US$ 41 milhões por rodada no mundo, contra apenas US$ 2 milhões na região.

Os Estados Unidos seguem liderando os aportes em IA globalmente, concentrando grande parte dos investimentos — embora o dado por país não esteja discriminado na tabela, especialistas do setor apontam o mercado americano como principal destino do capital de risco em IA. A concentração de talento técnico, infraestrutura, acesso a dados e políticas de incentivo são apontados como fatores decisivos para essa liderança.

Este artigo é uma adaptação resumida de um conteúdo originalmente publicado pelo Estadão. Para ler a versão completa, acesse o site original: estadao.com.br

O investimento em startups brasileiras vem subindo desde 2024, após um ano de 2023 que ficou conhecido como o “inverno das startups”. Uma série de fatores levaram a uma queda nos investimentos de fundos de venture capital (capital de risco), incluindo a alta na taxa de juros dos Estados Unidos, maior nível de exigência em relação ao modelo de negócios das startups e uma ressaca de 2021, ano que foi recorde em patamar de investimentos de risco no Brasil e no mundo. Após esse pico, que durou até meados de 2022, houve um vale de aportes que exigiu que as startups se financiassem com capital próprio, o que levou a uma revisão de planos de negócios e demissões.

De acordo com dados da KPMG, no ano passado, o investimento em venture capital no País foi de US$ 2,25 bilhões (R$ 11,9 bilhões pela cotação desta quarta-feira, 17), ante US$ 2,1 bilhões (R$ 11,1 bilhões) em 2019 e o pico de US$ 6,66 bilhões (R$ 35 bilhões) de 2021. No primeiro semestre deste ano, o volume de investimento chegou a US$ 1,25 bilhão (R$ 6,6 bilhões), pouco mais da metade do registrado no ano passado.

O período da pandemia foi um divisor de águas no mercado de investimentos em startups. Ali, a euforia dos investidores passou e eles se tornaram mais rigorosos com modelos de negócios, deixando de investir em empresas sem clareza sobre a geração de caixa.

O setor de fintechs, as startups do setor financeiro, continuam como destaque entre os negócios inovadores brasileiros que têm conquistado investidores. Mas a fase de negócios voltados ao consumidor atraindo cheques cheios de zeros chegou ao fim. Agora, a moda é investir em startups com foco em empresas, que têm menos problemas com inadimplência e maior previsibilidade de receita e lucro.

O presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Leo Monte, destaca que o ecossistema de startups de São Paulo já tem uma maturidade considerável, o que é um fator crucial para seu desenvolvimento contínuo e para a atração de investimentos. Com isso, diz ele, os investidores podem descartar os aventureiros do empreendedorismo que criam negócios apenas para captar recursos.

“Não é sobre ‘quanto mais cheques menores eu faço para startups diferentes’, mas sim sobre quanto mais startups maduras eu tenho, mais cheques seletivos eu consigo fazer e em aportes maiores. Isso é uma tendência global”, diz Monte.

Brian Requarth, CEO do fundo Latitud, diz que o setor de fintechs segue em alta, mas também existem oportunidades para negócios inovadores de outras áreas e ressalta que o Brasil tem startups e empreendedores capazes de criar negócios de sucesso.

“Segmentos como tecnologia para logística, compras e automação tributária também estão ganhando espaço porque se conectam diretamente à economia operacional — em um ambiente com restrição de capital, eficiência vende. Vemos o apetite dos investidores ir para modelos como SaaS para infraestrutura, plataformas com dados incorporados, e aplicações verticais (focadas em uma indústria específica)”, afirma.

Neste primeiro semestre, a Clara, voltada à gestão de gastos corporativos, levantou US$ 80 milhões junto ao fundo Customer Value Fund (CVF), da General Catalyst. A empresa já tinha captado US$ 70 milhões em 2021 com o Coatue, o que a levou ao status de unicórnio — negócio avaliado em mais de US$ 1 bilhão.

Gerry Giacomán Colyer, CEO e cofundador da Clara, conta que a empresa tem buscado eficiência operacional e na captação de novos clientes, sendo uma frente importante a recomendação das empresas que já contratam seus serviços para outras, tornando a qualidade da prestação de serviço uma frente de expansão por si só.

“Temos um negócio com uma maneira eficiente de adquirir novos clientes, novo crescimento, e é por isso que conseguimos levantar esse capital. O aporte será 100% dedicado a continuar financiando mais o nosso crescimento. É uma combinação desse crescimento e também do desenvolvimento contínuo do produto e de novos produtos para nossos clientes, onde queremos ajudá-los a fazer e gerenciar todos os seus pagamentos. Assim, todo fluxo de trabalho de pagamento pode ser feito com a nuvem”, afirma Colyer.

O executivo diz ainda que os investidores estão em um momento diferente do mercado, não apenas buscando oportunidade de crescimento exponencial, mas também maturidade na estratégia de negócios.

“O clima mudou e o investidor procura empresas que estejam crescendo rápido, mas que também sejam excelentes financeira e operacionalmente. Há um sentimento de que haverá uma consolidação de empresas que se tornem plataformas, e queremos ser isso para nossos clientes”, diz Colyer.

A empresa mais recente a chegar ao patamar de unicórnio foi a QI Tech, fintech especializada em soluções financeiras para empresas. A companhia recebeu aportes da General Atlantic (que também é investidora do Nubank) que superaram R$ 1 bilhão e, em abril, uma extensão de rodada de investimento fez a companhia romper a barreira do US$ 1 bilhão.

Marcelo Buosi, diretor de Operações (COO) da QI Tech, diz que as tecnologias financeiras brasileiras atraem investidores por causa da demanda de mercado por esses produtos de digitalização. “O segmento B2B (vendas entre empresas) em fintechs cresce porque há uma oportunidade clara de gerar impacto em escala: empresas que oferecem infraestrutura financeira — como a QI Tech — permitem que outras organizações, de diferentes portes e setores, criem ou expandam produtos financeiros com rapidez, compliance e segurança”, afirma.

Segundo Buosi, o recente envolvimento de fintechs em atividades ilegais, conforme apontado pela Operação Carbono Oculto deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), com apoio da Polícia Federal e da Receita Federal, deve separar o joio do trigo entre as startups do setor.

“O aumento da fiscalização traz mais credibilidade ao ecossistema e protege tanto os clientes quanto os investidores. Inovação responsável precisa caminhar junto com governança e compliance”, diz.

A onda da inteligência artificial (IA) também tem ajudado empreendedores brasileiros a criar novos negócios. Um dos casos é o da Jumpstart, que ajuda pessoas a emigrar, focando especificamente na imigração para os Estados Unidos. A startup se concentra em petições de imigração baseadas em currículo e mérito, que são processos longos (de 500 a 2 mil páginas), e a IA permite identificar padrões e sazonalidades em profissões e tipos de incubadoras aceitas pela imigração, algo que humanos não conseguiriam. Desse modo, a startup está desenvolvendo fórmulas para os diferentes casos de pessoas que buscam se mudar para os EUA.

A IA ajudou a Jumpstart a oferecer serviços 50% a 60% mais baratos do que grandes escritórios renomados, que geralmente cobram entre US$ 20 mil e US$ 30 mil por um Green Card. A startup cobra de US$10 mil a US$12 mil.

A IA utilizada pela empresa é uma otimização de modelos existentes, como ChatGPT e Gemini, ajustada para a necessidade específica do segmento de mercado, um processo conhecido como fine tuning (ajuste fino, em tradução livre).

“Queremos que o processo de imigração seja tão fluido e com todas as garantias e facilidades que ele possa ser incorporado na Nomad, no Nubank ou no BTG para o público de alta renda. Hoje o processo de venda de imigração é extremamente exaustivo, dado que existe um mercado super saturado e não tem nenhuma marca também que é super confiável”, afirma Fabiano Rocha, engenheiro formado no ITA, fundador e CEO da Jumpstart.

A cidade de São Paulo vem se consolidando como uma das mais importantes do mundo no ecossistema de inovação. No País, já pode ser considerada a capital da inovação. Recentemente, a cidade passou a integrar a lista das 50 mais relevantes em ciência e tecnologia do mundo, após subir 24 posições no ranking, que serve como prévia do Índice Global de Inovação (IGI). Com a alta, o município foi da 73ª para a 49ª colocação — e é a única da América Latina entre as 100 primeiras posições.

Com isso, São Paulo ficou à frente de cidades como Melbourne (52ª), Stuttgart (54ª), Milão (56ª), Atlanta (59ª), Montreal (62ª), Frankfurt (64ª), Miami (67ª), Cambridge (69ª), Roma (82ª), Lyon (90ª) e Manchester (94ª).

Rodrigo Goulart, secretário de desenvolvimento econômico e trabalho da prefeitura de São Paulo, diz que a cidade tem tomado medidas para estimular a inovação, tanto com programas para acelerar os ecossistemas de startups quanto com redução de alíquota de ISS, de 5% para 2%, para alguns setores ligados à tecnologia.

“Temos feito inclusões no plano de metas do empreendedorismo de tecnologia e inovação. Sempre pensamos nos jovens, mas pensamos na longevidade. Há um atendimento aos longevos, ligados à tecnologia, para evitar que sejamos apenas programas de um governo. A ideia é transformar os programas em políticas públicas”, afirma.

Atualmente, o município tem programas como o Green Sampa, o Vai Tec, o Sampa Games e a rede de coworkings Teias.

Segundo balanço feito pela Contabilizei com base em dados públicos da Receita Federal, o volume de abertura de empresas no País vem aumentando, seguindo os movimentos observados em investimentos de fundos de venture capital em startups brasileiras.

Neste ano, 4,7 mil novas empresas de tecnologia foram criadas no País, um aumento de 25% em relação ao mesmo período no ano anterior. A grande maioria é do setor de serviços e esperam faturar mais do que os R$ 81 mil anuais limitados no MEI, uma vez que 88% dos novos CNPJs são de micro ou pequenas empresas.

O vice-presidente executivo de operação da Contabilizei, Guilherme Soares, conta que os profissionais de tecnologia têm um histórico de trabalho empreendedor, com muitos deles abrindo empresas para prestar serviços para diversas empresas.

“Ter mais investimentos para startups faz com que esse mercado de prestação de serviços de tecnologia aumente. Analisando os números, em 2023, quando foi o inverno das startups e houve uma limitação da liquidez, as empresas passaram a segurar seus gastos. Foi onde teve um decréscimo na abertura de empresas de tecnologia no Brasil”, afirma.

Em 2024, São Paulo foi a capital que mais registrou a abertura de novas empresas de tecnologia, com 15,3 mil, seguida por Belo Horizonte com 2,12 mil e Curitiba com 1,68 mil.

A base de clientes da Contabilizei cresceu 40% de 2023 para 2024, chegando a mais de 30 mil. O faturamento total desses clientes foi de R$ 6,5 bilhões, com avanço de 38% em relação ao ano anterior (2023 x 2024). Entre eles, dois de cada dez (19%) emitem nota fiscal para o exterior, um crescimento de 33% no mesmo período, e o faturamento desses profissionais foi de R$ 2,3 bilhões no ano passado, uma alta de 46%.

De acordo com o levantamento iMonitor IT, feito pela Advance, as principais oportunidades para empresas de TI no País atualmente estão em áreas como inteligência artificial, marketing digital, computação em nuvem, cibersegurança e análise de dados.

Apesar do crescimento expressivo dos investimentos globais em startups de inteligência artificial (IA), a América Latina tem ficado com uma fatia cada vez menor desse mercado bilionário. Dados da consultoria CB Insights de 2021 a 2025 mostram que, enquanto o volume de aportes no mundo totalizou US$ 461,9 bilhões, a região latino-americana captou apenas US$ 2,5 bilhões — ou 0,54% do total global. Neste ano, até junho, foram US$ 116,1 bilhões globalmente e US$ 100 milhões na região.

Entre as startups brasileiras que conseguiram se destacar no cenário ainda tímido da América Latina, a Blip, especializada em chatbots, recebeu o maior aporte, US$ 60 milhões, em uma rodada Série C liderada por gigantes como SoftBank, Warburg Pincus e Accel. Outras empresas que se destacaram foram a Payface — especializada em biometria facial para pagamentos—, com US$ 10 milhões captados com participação do BTG Pactual, e a Jota, focada em dados jurídicos e políticos, que recebeu US$ 9 milhões em rodada seed com participação dos fundos Maya Capital, Alter Global e Big Bets. Startups como Neofin (finanças corporativas), Teachy (ensino) e Advolve (publicidade) também figuram entre os maiores aportes do período, mostrando que, apesar das dificuldades estruturais da região, há empreendedores brasileiros conseguindo atrair capital para soluções baseadas em IA.

Segundo especialistas, uma das explicações para o Brasil e a América Latina como todo terem ficado com um pequeno montante dos aportes está na desvalorização das moedas da região. Outra é que as startups brasileiras, argentinas, chilenas e colombianas têm tido dificuldade de criar negócios que sejam vistos por investidores globais como disruptivos.

A disparidade dos aportes em relação às cifras globais também se reflete no número de rodadas: globalmente, foram realizadas 23.542 rodadas de investimento entre 2021 e junho de 2025, contra apenas 294 na América Latina. Isso evidencia uma dificuldade da região em atrair capital para negócios baseados em IA, mesmo diante do aumento da demanda global por tecnologias que utilizam aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural e outras soluções automatizadas.

Outro ponto que reforça essa distância é o tamanho médio dos cheques. Enquanto o valor global médio por rodada ficou em US$ 19 milhões, na América Latina o valor foi de apenas US$ 8 milhões. Em 2025, a diferença foi ainda mais expressiva: US$ 41 milhões por rodada no mundo, contra apenas US$ 2 milhões na região.

Os Estados Unidos seguem liderando os aportes em IA globalmente, concentrando grande parte dos investimentos — embora o dado por país não esteja discriminado na tabela, especialistas do setor apontam o mercado americano como principal destino do capital de risco em IA. A concentração de talento técnico, infraestrutura, acesso a dados e políticas de incentivo são apontados como fatores decisivos para essa liderança.

Este artigo é uma adaptação resumida de um conteúdo originalmente publicado pelo Estadão. Para ler a versão completa, acesse o site original: estadao.com.br

Quer empreender ou se mudar para os EUA? Agende uma consulta inicial gratuita aqui.

Quer empreender ou se mudar para os EUA? Agende uma consulta inicial gratuita aqui.

Credenciado por

Email: contact@jumpstartfinance.ai

© 2025 Go Jumpstart LLC. Todos os direitos reservados.

350 Sharon Park Dr, Menlo Park, CA 94025

Jumpstart Logo

Credenciado por

Email: contact@jumpstartfinance.ai

© 2025 Go Jumpstart LLC. Todos os direitos reservados.

350 Sharon Park Dr, Menlo Park, CA 94025

Credenciado por

Email: contact@jumpstartfinance.ai

© 2025 Go Jumpstart LLC. Todos os direitos reservados.

350 Sharon Park Dr, Menlo Park, CA 94025

Jumpstart Logo